Custa-me falar contigo todos os dias, praticamente a toda a hora e sentir-me forçada a não dizer aquilo que me vai realmente na mente e no coração. Para ser sincera, eu tenho medo, muito medo. Já vi esta situação acontecer demasiadas vezes mesmo debaixo do meu nariz, as coisas iam ser diferentes e eu não estou preparada para isso. Não estou preparada para não poder falar contigo da mesma maneira por estares ciente dos meus sentimentos e teres medo de dizer algo que me possa iludir ou que me possa magoar. Mesmo que aches que não, inconscientemente, as coisas mudam e nunca mais falaríamos da mesma maneira, não íamos ser capazes de ter as mesmas brincadeiras e as mesmas conversas intimas que sempre tivemos.
Para ser sincera, a ideia de não voltar a ter isso contigo, mantém-me acordada à noite, por mais dramático e até desnecessário que isto possa soar. Talvez esteja mal habituada e talvez não me deva de sentir tão especial como me sinto cada vez que falamos ou de cada vez que escolhes partilhar alguma coisa comigo só porque sim. Por mais que eu saiba que se não fosse eu, provavelmente seria outra pessoa, não consigo evitar sentir-me nas nuvens pelo simples facto de ser eu a poder estar lá por ti, mesmo que muitas vezes seja ao contrário. É estúpido, mas sei que estarias lá para mim para me dizer que vai ficar tudo bem, mas para depois me repreenderes e dizeres "vá, deixa de ser maricas", porque é precisamente o que eu preciso de ouvir.
Sabes quantas mensagens escrevi, mas para depois ficarem nos meus rascunhos? Eu diria demasiadas, porque sinceramente já perdi a conta. Sabes quantas vezes olhei para ti quando nos encontrávamos e apenas pedia para que um dia olhasses para mim da mesma maneira? Sabes quantas vezes olhei para as nossas fotos e me senti arrependida de não te ter confrontado para saber o que poderia sair dali? Mais uma vez, se calhar mais vezes do que eu gostaria de admitir.
Porém, sou tonta e escolho deliberadamente não te dizer nada. Por mais maricas que isto possa soar, sei que os meus sentimentos seriam quase que um fardo para ti e porque é que haveria de te dar essa preocupação quando a vida já te corre tão bem?
Podes nem ser o meu one and only podes até nem ser o homem da minha vida, por isso até me podias perguntar: "mas então porque todo este drama?". E eu dir-te-ia que tens toda a razão, que se calhar todo este texto é uma hipérbole e que se calhar daqui a uns anos vou dar por mim a ler isto e a pensar "mas que parva, onde é que eu tinha a cabeça quando tinha 18 anos?", mas perdoa-me o exagero, porque estou consumida por todos estes sentimentos. Sinto-me em conflito comigo mesma e sinto-me a explodir silenciosamente cada vez que vejo que perdi uma oportunidade para te dizer o quanto realmente significas para mim e o bem que me fazes só por estares ao meu lado.
Não sei se te lembras de uma vez me dizeres que estarias comigo para o que desse e viesse e eu permaneci em silêncio, com os olhos pregados no balãozinho cinzento que reproduzia aquela mensagem. Mesmo que não fosse com essa intenção, o que era suposto eu dizer? Se bem me lembro, acho que agradeci num tom meio atrapalhado, mas o meu coração e o meu cérebro fizeram soar alarmes e eu tive que ligar os geradores para não ter um shut down massivo. Mais uma vez, é só uma idiotice, não é? Mesmo que eu saiba que não nutres esse tipo de sentimentos por mim, lá estou eu a saltar de nuvem em nuvem, com a cabeça na lua, perdida e ausente.
Mesmo assim, às vezes dou por mim a questionar-me "E se não fosse assim? E se eventualmente, algures no final da linha, não fosse a única toda atrapalhada com isto?". Permite-me estas infantilidades, mas sou uma mente romântica, já vi demasiados filmes e já li demasiados romances para lá no fundo não ter uma esperança de que um dia possamos olhar para trás juntos e rir de quando éramos parvos e não conseguíamos passar da cepa torta. Uma rapariga pode sonhar, não é? Isso nunca matou ninguém...
Tenho uma pequena parte de mim silenciada, que me diz que eu devia dizer-te tudo isto, just get it over with, porque estou a torturar-me a mim própria. Por mais que seja verdade, ainda sou demasiado cobarde para aceitar as consequências que isso terá e chegará o dia em que vou ser capaz de te dizer isso e depois quem sabe, apenas pegar nisso e seguir em frente. Não vou conseguir agir como se nada tivesse acontecido e como se nunca tivesse sentido nada, mas quem sabe se falar disto abertamente contigo não será o primeiro passo para deixar mesmo de o sentir? O dia chegará e penso que ambos estaremos cá para o ver.
Nunca serei como a Rose no Titanic, a olhar para um colar (perdoa-me se não acertei, acho que já sabes que nunca vi esse filme todo) e a pensar nostalgicamente em tudo isto. Não vou acabar deitada numa poltrona a falar com alguém que no fim me vai perguntar "então e o que é que sentes em relação a isso?", convínhamos que gosto de ser melodramática, mas assim tanto também não.
Peço-te outra vez que me deixes dar-me ao luxo de usar todas estas hipérboles e que não dês muita relevância à forma exagerada e teatral como estou a expor isto, mas às vezes há que ser mais eloquente, parece bem.
E onde é que isto nos deixa?
Numa situação em que eu luto contra tudo o que me diz para te dizer como me sinto e tu numa situação de ignorância, sem saberes o que se passa por trás das cortinas. Consigo viver perfeitamente com isso porque é o que tenho estado a fazer depois de todo este tempo e depois de ver que não conseguirias lidar com este fardo. Consigo ser desagradável ou se calhar mais fria do que gostaria de ser contigo porque também não quero ser mal interpretada. Sei que se calhar há coisas que digo que noutra situação me poderiam denunciar, mas um jk faz maravilhas.
E é isto, sinceramente. Talvez um dia poderei dizer-te todas estas coisas sem rodeios, directamente e sem medo de consequências... mas hoje não é esse dia.
Yours,
Carolina
Carolina