Estas coisas tiram-me do sério de uma maneira que eu nem sequer consigo explicar por palavras. Tira-me do sério e agora não consigo concentrar-me realmente em mais nada enquanto não conseguir expressar toda a raiva que tenho vindo a acumular.
Mas estamos a brincar com quem, afinal?
Cada vez que falo deste assunto em particular, dizem-me que ficar chateada não me vale de nada e que mais vale nem pensar muito nisso.
Foda-se.
Se há coisa que eu tenho vindo a suportar menos e menos é perder o meu tempo ou que me façam perder tempo, porque infelizmente é um bem cada vez mais escasso. Cada vez o dia parece ter menos horas e quando dou por mim, o dia já passou e eu não fiz absolutamente nada do que devia ter feito. Tendo isso em conta, desperdiçar tempo é um luxo a que eu não posso aceder nos dias que correm, seja pela proximidade das frequências ou por causa da correria do estágio e acho que se justifica. Com o passar do tempo, dou por mim a ficar mais selectiva nas escolhas que tenho no dia-a-dia, desde o que compro às pessoas de quem me rodeio.
Irrita-me, tira-me do sério chegar ao fim de uma coisa, ver que perdi o meu tempo e que afinal nada importa. Pode ser egoísta, pode ser irracional até, mas não consigo lidar com estas coisas por mais que me tentem dizer como reagir. Não consigo suportar quando uma pessoa me faz apegar a ela e depois me faz ficar tão chateada e tão desiludida ao mesmo tempo que quase dói fisicamente.
Sempre achei que não seria por ter más experiências com isto ou com aquilo que ia deixar de fazer o que quer que fosse. Tive desilusões amorosas e com amigas, mas sempre me convenci de que essas coisas fazem parte e que, de uma maneira ou outra, são coisas virtualmente impossíveis de evitar. Mesmo assim, sempre quis pensar de que já teria um pouco mais de juízo do que isso e que seria capaz de saber, na maior parte dos casos, quando investir o meu tempo em alguém. Se estou a escrever isto é óbvio que me enganei, mas não quero discutir, não quero levar com mais culpas.
Porque eu conheço o teu feitio.
Pois é, estive um ano a ser o rochedo e a tentar desviar-te de erros que poderias ter evitado facilmente. Agora entendo quando a minha mãe me dizia que às vezes não me dizia certas coisas porque sabia que eu tinha que dar as minhas próprias cabeçadas e que lá me ajudava a evitar outras mais desnecessárias. Contudo, esse é o papel da mãe e não da amiga, mas era esse papel que eu tinha e acabava por ser a má da fita. Encorajei-te a cometer loucuras porque são saudáveis, a adrenalina que nos enche as veias não é igualada por qualquer outro sentimento, mas também fiz outro papel. Achei que na altura precisavas de ouvir coisas, disse-te muitas vezes hesitante porque tens mau feitio, sempre o disseste. Disparatavas por tudo e por nada, eras hipersensível e uma frase que te agradasse menos já era desculpa para começares a gritar no meio da rua. Ninguém podia levantar-te a voz, mas se alguém de atrevesse a fazê-lo, levava na mesma moeda, com juros a e até taxavas impostos. O que mais me irritava é que guardavas remorsos, eras capaz de estar bem uma semana e depois voltar a queixar-te de um assunto que supostamente estava mais do que arrumado.
É mesmo essa a ideia que tens do que é uma amizade? Discutir por tudo e por nada? Eu nem aturo isso de um rapaz, quanto mais de uma amiga que eu não conheço assim há tanto tempo... e sei que não passei assim tanto porque ouvi muito pior. Será que é para isso que as amigas servem. na tua cabeça? Somos seres que podem ser postos de parte e que depois vão estar lá na mesma quando voltares a precisar? Os cães fazem isso porque nos amam incondicionalmente, mas até eles acabam por se virar se formos negligentes com eles. Por um lado até foi isso que aconteceu.
Viemos substituir as amigas que já não queriam saber, não é? Lidando com o teu feitio, acabaram por arranjar mecanismos para se habituarem, aposto que já faziam orelhas moucas de cada vez que começavas os teus imensos temper tantrums. Aposto que já nem tentavam fazer comentários de cada vez que começavas com os teus dramas e fingiam que não entendiam quando pedias alguma opinião, porque acabei por aprender da pior maneira que quando pedes uma opinião, é para magicamente adivinhar aquilo que queres ouvir.
Mas eu que me foda se falar e eu que me foda se não falar, não é?
Quando deixei de querer manifestar a minha opinião porque sabia que não ias gostar, o meu pagamento foi gritares comigo porque achavas que eu estava chateada contigo. Nem estava, mas podia ter ficado, porque passei uma das maiores vergonhas da minha vida. Sendo uma pessoa muito calada e bastante tímida, nunca consegui lidar bem com demasiados olhares postos em mim. Ia tendo um ataque de ansiedade quando decidiste começar a gritar comigo no meio de uma sala com quase duzentas pessoas e será que não entendeste isso? Aposto que não.
No meio destas coisas todas, perdi horas de sono a preocupar-me porque sabia que estavas a entrar num ciclo vicioso de asneiras. Perdi sono, horas e horas de sono porque estava preocupada, porque chegaste a ligar-me de madrugada porque? Porque tinhas feito mais merda e não sabias como lidar com as consequências. Sabe Deus o que dirias se eu tivesse acordado para atender aquela chamada e sabe Deus o que eu te diria. diria muito pior do que te disse na altura. Mesmo assim não fui eu que levei com a pior dose porque sou a que está fora de alcance. Para além de morar longe, inconscientemente estava a ler todos os sinais de aviso que foste dando, todas as bombas que foste largando como quem não quer a coisa. Dizias que éramos só tuas conhecidas porque as amigas acabam por se abandonar umas às outras e porque sempre tiveste más experiências com amigas. Contudo, a quem é que ligavas quando estavas preocupada? Em que casas te ias meter quando te metias em merdas ou quando precisavas de um alibi para os teus pais? Não sei se estás como a Dori e já não te lembras de quem estava lá para ti, quando te queixavas de que as tuas amigas verdadeiras já não queriam saber.
No meio disto tudo qual foi o nosso pagamento?
Agora as coisas estão um mar de rosas, não é? As amigas verdadeiras voltaram a querer saber, de um momento para outro, agora está tudo bem e as conhecidas já não são precisas. Pelo menos não vou ter que ficar invalidada por ser mais nova, pelo menos não vou ter que me preocupar, porque agora desemerda-te. Agora que te pode ser conveniente falar outra vez, já mandas mensagens, pois agora fode-te, porque eu já não estou cá.
Gostava muito de poder ser a pessoa maior no meio disto tudo e de vir com aquelas tretas de que estarei sempre cá se precisares de mim, mas não sou. Agora é a altura de ter a atitude da criança por que sempre me tomaste e eu não vou estar cá, simplesmente não vou, recuso-me a ser usada por conveniência.
Que se foda a segunda oportunidade.
Que te fodas tu.