O Tanabata é um festival
japonês com origens no festival chinês Qixi, que por sua vez tem origem numa
lenda que envolve as divindades Orihime e Hikoboshi, representados pelas
estrelas Vega e Altair respetivamente. Tanabata tanto se escreve 七夕 na leitura chinesa ou utilizando os caracteres atuais (たなばた), mas essencialmente quer dizer "festival
da estrela" ou "noite do sétimo" porque se realiza uma vez por
ano no sétimo dia do sétimo mês lunar do calendário lunissolar. Assim sendo, as
festividades têm início no dia 7 de julho do calendário gregoriano, tendo
celebrações dispersas pelos meses de julho e agosto.
O festival foi
introduzido no Japão por uma imperatriz no ano 755 e ganhou popularidade com o
público em geral durante o período de Edo (1603-1868), misturando-se com a
celebração do Obon.
Não estou a contar esta história só porque sim,
esta introdução, apesar de curta, demorou alguns dias a escrever porque estava
sempre com preguiça de pesquisar. Para além disso como eu sou uma pessoa
geralmente desorganizada, já comecei a escreve isto umas seis vezes em sítios
diferentes e continuo a perdê-los.
Já não me lembro ao
certo qual foi a primeira vez em que ouvi falar do Tanabata, mas aquela que
despertou a minha atenção foi um drama japonês. Se não me engano, estavam em
cenas duas personagens femininas, uma adulta e uma criança. Na cena, estava a
chover e a criança estava à janela, a adulta sugere fazerem teru teru bozu que
são bonecos feitos em trapo branco trazem bom tempo, previnem e/ou param a
chuva. No seguimento disso, veem-se os bonecos pendurados na varanda e a
criança pergunta “Achas que este ano a Orihime e o Hikoboshi se vão
encontrar?”. A personagem adulta sorri, olhando para o céu e acena
afirmativamente com a cabeça.
Depois desta cena, a
chuva para e nunca mais se fala da Orihime e do Hikoboshi o resto do drama, o
que despertou logo a minha curiosidade que sofre de insónias e nunca chega a
dormir. Quando acabei de ver a série, por lapso, esqueci-me de pesquisar sobre
o assunto e quando queria pesquisar, já não me lembrava dos nomes. Passado
algum tempo, voltei a ouvir falar do assunto e parei imediatamente o que estava
a fazer para guardar a página da Wikipédia que agora tenho aberta para me
ajudar neste post.
(Quem me conhece sabe
que eu consumo tudo o que seja media japonesa em quantidades pouco saudáveis,
por isso era uma questão de tempo até voltar a surgir o Tanabata)
Seguindo para o que
realmente interessa: a lenda.
Orihime é o nome dado à
Princesa da Tecelagem, filha de Tentei, o rei do céu ou do universo (nome literal).
A princesa tecia roupas à margem do rio Amanogawa (Via Láctea) e embora
recebesse muitos elogios do pai, nunca estava realmente satisfeita porque, por
causa do seu trabalho árduo, não podia conhecer ninguém e não tinha esperanças
de se apaixonar. Preocupado com a filha, Tentei apresenta-a a Hikoboshi
(literalmente "rapaz estrela"), um pastor que vivia e tinha o seu
armento do outro lado do Amanogawa. Os dois apaixonam-se à primeira vista e
acabam por se casar.
Depois de se casarem,
Orihime deixa de tecer para o pai, que, num acesso de raiva, separa os amantes
em cada margem do Amanogawa e proíbe-os de se encontrarem. A princesa,
devastada pela perda do seu marido, implora a Tentei que o deixe ver de novo.
Movido pelas palavras da filha, Tentei permite que os dois se encontrem no
sétimo dia do sétimo mês se ela voltasse a tecer e conclui-se o seu trabalho.
Porém, no primeiro ano
em que era suposto encontrarem-se, Orihime e Hikoboshi percebem que não
conseguiriam atravessar o rio porque não existia uma ponte. A princesa chorou
tanto que um grupo de pegas apareceu e
prometeu criar uma ponte com as suas asas para que ela pudesse atravessar o
rio. Reza a lenda que se chover no Tanabata, as pegas não aparecem e os dois
amantes tem que esperar mais um ano para se verem.
Por algum motivo, a
história de Orihime e Hikoboshi mexeu comigo da primeira vez que a li e nunca
fui capaz de me esquecer dela. Sempre que chove, sem exceção, lembro-me dos
dois amantes separados por uma galáxia, dependente das condições atmosféricas e
de um bando de pássaros para se poderem encontrar um dia por ano. Chuva em
julho, no sítio onde eu vivo é um fenómeno estranho por ser verão, mas não
duvido que noutros sítios, principalmente no hemisfério sul, não seja assim tão
peculiar. Para além disso, não estou completamente familiarizada com o
calendário da época das monções na Ásia, por isso não sei com que frequência
choverá em julho no Japão, onde se celebra o Tanabata. Sei, no entanto, que vou
começar a prestar mais atenção à meteorologia em julho e, se por algum motivo
chover aqui ou do outro lado do mundo, eu própria farei um teru teru bozu para
os dois star crossed lovers, mesmo
que não seja uma pessoa especialmente dada a superstições.
Tendo em conta que não
sou uma pessoa espiritual, religiosa, supersticiosa e que não dá grande atenção
a assuntos relacionados com fé, parece um bocado parvo escrever que me importo
tanto com estas divindades. Contudo, o “problema” que se mete aqui é que eu sou
uma romântica incurável e que me rendo a toda e qualquer história de amor,
mesmo aquelas de origem religiosa.
(Uma ressalva para a
minha falta de interesse no Orlando Bloom e a Keira Knightley nos Piratas das
Caraíbas, embora a história seja relativamente idêntica. O meu coração só tem
espaço para uma história destas de cada vez, sorry.)
Durante o Tanabata
penduram-se tanzaku, essencialmente retângulos de papel pendurados em bamboo
com desejos escritos em verso. Depois do festival, o bamboo e as decorações são
atiradas ao rio ou queimadas. Talvez este ano pendure um tanzaku numa árvore
aqui no quintal, mas duvido que a memória me assista nisso.
Espero que este ano a
Orihime e o Hikoboshi se possam encontrar.
Fonte: http://fdevitart.tumblr.com/